Os espanhóis tinham o propósito de fundar, na América, um Novo Mundo. Um lugar perfeito e acabado, sem os vícios e desacertos do Continente Europeu. O tão aspirado Paraíso na terra. Se alguma coisa é digna de nota, não foi obra dos espanhóis, nessa empreitada. Estes e seus coirmãos portugueses, nos deixaram um mundo novo e inacabado que não conseguimos colocar nos trilhos, apesar do tempo transcorrido.
O caráter desse Novo Mundo é extremamente duvidoso. As leis vindas do além-mar, não eram cumpridas. “La ley se obedece pero, no se cumple”. E esse caráter permaneceu e ela continua a ser uma prostituta que é violada desde sempre para atender interesses espúrios. Aqui se faz e se desfaz! Onde se cumpre e se descumpre com a mesma facilidade! Se condena e se descondena com a mesma cara de pau! Onde se rouba e esconde a mão e, posteriormente, o condenado vira herói, com atestado de idoneidade! Onde se promete e despromete, com a maior naturalidade. Se mente e desmente com a mesma desfaçatez! Onde se prega e desprega a ditadura, sem nem franzir o cenho. Onde se cultua torturadores, como se estes fossem heróis a serem resgatados!
Onde se coloca armas em mãos impuras com o direito de matar, confiado na certa impunidade que tardará, mas virá! Onde se inventa e não se tem a fineza de desinventar, como sentencia o samba de Chico Buarque! Enfim, onde a lógica cartesiana da aritmética não passou nem perto. Vivemos num salve quem puder, neste País de ladrões, como dizia meu pai. Tudo isto, meu caro leitor, me parece o fim da picada!
Convivemos com manifestas contradições, sem ligar para o desiderato do resultado. Por isso temos dificuldade em discernir o certo do errado que se confundem neste imenso País. Vivemos trocando 06 por meia dúzia sem dar conta de que assim não chegaremos a lugar nenhum. Um exemplo, desta assertiva, são as eleições presidenciais de outubro/22, onde os candidatos presidenciais favoritos, se trocado um pelo outro, não tem volta. E nessa densa neblina que se encontram os destinos do Brasil e do povo brasileiro.
Penso em tanta gente que passa cruéis necessidades e fome, como se o País não fosse um dos maiores exportador de grão e carne do mundo. Saio nas ruas e vejo as crianças e os jovens no maior entusiasmo pela e para a vida. E fico imaginando o que eles irão herdar! Este País confuso e sem rumo, onde o planejamento passou ao largo e a maior parte delas desmancha no ar.
O que nos resta é cantar um fatalista tango argentino ou tentar curar as feridas desse infindo banzo ao som de um nostálgico fado, pois o tempo está a nos acompanhar, aos sons de uma marcha fúnebre. Entretanto, para não dizer que não falei de flores, evoco as exaltações de versos apropriados, cujo autor já citei e o nome encima este texto.
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão……
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar…
Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia.
Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br