ALMA GÊMEA

“ O amor é como a lua, resiste a todos os sonetos e abençoa todos os pântanos” (Rubem Braga).

E os vi de longe. Eles não me perceberam. Ela estava enganchada em um dos braços dele. Parecia querer adentrar nele. Enfim ela estava literalmente pendurada nele. Um amalgama. Pareciam ser uma só pessoa. Eu observei e tive a impressão que eram iguais. Se pareciam muito. Creio que os hábitos, os costumes e a longa convivência juntos fazem as pessoas ficarem semelhantes.

Acho que as pessoas acostumam tanto umas com as outras que parecem irmãos gêmeos. Nasceram umas para as outras. É uma verdade, senão absoluta, mas uma verdade: almas gêmeas.

O tempo e a convivência se encarregam de aplainar a maioria das diferenças. Quantas contendas! Quantas desavenças! Quantos arranca-rabos foi preciso para selar a paz definitiva.

Tem-se um ponto, tem-se também um contraponto. Disse Rubem Braga que estes casos são como certos quadros devem ser olhados á distância. De qualquer forma fico com as paisagens que são vistas de longe sem examinar detalhes para que não revelem coisas indesejáveis como a paz de cemitério.

O certo é que o casal conhecido que vi me parecia feliz. Destas felicidades cotidianas. Acomodado e reconciliado. Frutos de circunstâncias e contingências que o viver a dois severamente impõe. A vida para eles me parece a ilusão de um sonho dourado, conquistado a duras penas no vai e vem da vida ou a paz possível de um armistício.

Vai entender, os vales, as sombras, os ínvios e tortuosos caminhos da vida.

Renato Gomes Nery – segunda-feira de carnaval – 08.02.2016 -E-mail – rgnery@terra.com.br

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