O CINE BAR IMPERIAL

                                     

                              A empresa de ônibus Expresso Baleia era o meio de transporte da capital Cuiabá com o resto do Estado Mato Grosso, na década de 60 do século passado. Era através dos seus ônibus que as pessoas se deslocavam pelos rincões deste Grande Estado, Grande. Naquela época, não existiam estradas pavimentadas. Na estação das chuvas, o deslocamento era mais difícil, pois tinha que se transpor os incontáveis e intransponíveis atoleiros. Na estação da seca os buracos e a poeira nublava tudo e tornava a viagem um tormento.

                              O certo é que um ônibus para transpor uma distância de 250 km, entre Cuiabá – Nortelândia/Santana, mourejava um dia inteiro, se não fossem colhido por incidentes normais em estradas sem pavimentação. Eram naqueles ônibus que se traziam os filmes de fitas celuloide, que vinham acondicionados numa embalagem de metal. O serviço de alto falante do Cine Bar Imperial anunciava, com antecedência os filmes que iria exibir, através da voz tonitruante de Mané Baleia.  Era, normalmente, um famoso faroeste que, às vezes, chegava na última hora para o desespero de nós, os meninos que íamos em bandos buscar a preciosa mercadoria, no ponto do Expresso Baleia.

                              Já perceberam porque o nosso querido Mané tinha esta alcunha! Ele tem o nome de celebridade: Manoel Moreira Miranda –MMM. Manoel é uma figura fantástica. Alegre, brincalhão e insuperável no mister de empolgar os ouvintes, através do alto falante. Se você que me lê não sabe o que é alto falante, pergunte a seu pai ou a seu avô. O Cine Bar Imperial situava-se ao lado da minha casa, e a energia que o movia era gerada por um motor diesel estacionário.

                              No alto falante do Cine Bar Imperial, eu ouvi pela primeira vez: boleros, sambas canção e valsas nas maviosas vozes de Altemar Dutra, Nelson Gonçalves, Francisco Petrônio, Ângela Maria e Cascatinha e Inhana e cia.

                               Os “amassos” tinham a cumplicidade do “escurinho” do Cine Bar Imperial. Naquela época, não se relativizava nada. Macho era macho e fêmea era fêmea, pois o respaldo vinha da masculinidade dos faroestes, como: DJango não perdoa, mata; Por um punhado de dólares e O dólar furado, com suas trilhas sonoras magníficas; Meu ódio será tua herança; Era uma vez no oeste; Os imperdoáveis; Três homens e um conflito; Uma pistola para Ringo, entre tantos outros. Nossos heróis: John Wayne, Kirk Douglas, Henry Fonda, Juliano Gemma, Burt Cassady, Burt Lancaster, Lee Van Cleef, Charles Bronson, Clint Eastwood, Terence Hill, Bud Spencer e etc.

                              Vai se ficando velho e se tornando, também, emotivo. Nunca mais vi Mané Baleia, mas não me contive quando recebi esta semana, um WhatApp, com a sua imagem e voz:

                                      – Está no ar o serviço de alto falante do Cine Bar Imperial, para anunciar para vocês o grande espetáculo cinematográfico desta noite, a partir das 20 horas. Não perca você e toda sua família o grande bang-bang, com Hopalong Cacide e muitos outros artistas do elenco do cinema norte americano. Contamos com vossa presença na nossa panorâmica tela do Cine Bar Imperial -.

P.S. – In Memoriam de Rui Rosa de Castro proprietário do Cine Bar Imperial.

                           Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br     

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