MUDARIA O NATAL OU MUDEI EU

                           É difícil, principalmente para os mais velhos, a aceitação das mudanças e transformações o que implica em negá-los já que eles são o atestado do passado imutável.  Nem tudo que já foi experimentado e nem tudo que é novo é excelência. A vida deve ser encarada como o primado da razoabilidade. O passado tem o seu inestimável valor, mas a renovação e as mudanças fazem parte dinâmica da vida que prossegue inexoravelmente.

                                      No Natal é festejada e comemorado como mudança, com o nascimento de uma vida que iria mudar para sempre o destino da sociedade ocidental. A sua comemoração é a celebração de uma nova vida e de um novo tempo, pois vida nova é a renovação, o que implica na revisão das formas de ser e viver.

                            Numa reflexão profunda, no início do século passado, Machado de Assis, no Soneto de Natal, faz a seguinte confissão: – “A folha branca pede-lhe inspiração; mas, frouxa e manca, a pena não acode ao gesto seu. E, em vão lutando contra o verso adverso, só saiu este pequeno verso: “Mudaria o natal ou mudei eu”.

                            As razões de uma eventual mudança do poeta, seriam o peso das noites antigas com toda sua magia e os folguedos da infância que ele almejava transportar para o presente, em uma mesma noite velha antiga, mas não conseguia.

                            Temos razões de sobra para afirmar – que nada ficou ou ficará como antes. O tempo e a vida mudaram radicalmente frutos de inesperadas circunstâncias. O natal foi radicalmente modificado com as comemorações reduzidas e as pessoas aprisionadas em casa. Futuro incerto ainda nos atordoa pela insegurança de que a próxima vítima por ser eu, você ou qualquer ser humano que ainda respire. Enfim, a fragilidade humana, nesta quadra, é palpável e pode desabar sobre nós a qualquer momento, vítima de um vírus mal gerenciado e mal combatido.

                                      Este Natal perdeu o encanto e o clima de confraternização que nos faz a todos tornarmos mais próximos. Mudou sim, mudou o natal, o que levou a transformação de todos nós.  Entretanto, outros virão, sem tantos incômodos ou preocupações, sem tantas perdas, com aproximações, com luzes na pracinha, com os presentes, os amigos ocultos, com os folguedos, com presépios nas casas, com comida farta e com o Papai Noel encantando as crianças e renovando a esperança do futuro.  

                                      As perspectivas e esperanças no próximo ano, não podem ser obstruídas pela insensatez do combate incerto e tardio da pandemia que está cobrando uma onerosa fatura. Fora da vacina não há salvação!  É preciso imunizar rápido e indistintamente, a qualquer custo, a população, pois o que já está acontecendo é gravíssimo e as previsões são perturbadoras e sombrias.  Certamente, que a carruagem vai passar e estes poucos cães que ainda ladram serão atropelados pela sua estupidez. E com certeza, no próximo ano, iremos resgatar os eflúvios, a magia e o espirito do Natal, no cultivo de um futuro melhor.               

                             Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br

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