PROFISSÃO: ESPERAR.

                                                              

                            Um jornal diário da TV – Centro América, exibiu, na semana passada, uma reportagem, onde conta a história de muitas pessoas que estão muito além do peso e aguardam, há muito tempo, por uma cirurgia bariátrica pela rede pública. As cirurgias feitas, pela rede privada de hospitais, são muitos caras e está fora do alcance da maioria daquelas pessoas que somente têm uma saída: esperar pelos ínvios caminho da Saúde Pública. As vidas dessas pessoas é uma via crucis, pois o mundo não foi planejado para elas. A cadeiras são pequenas. Pelas catracas dos ônibus elas não conseguem passar. Elas sequer podem sair de casa, pois não cabem nos lugares normalmente frequentados pelas pessoas. Elas são isoladas e solitárias. Enfim, uns párias da sociedade que lhes virou as costas e eles estão completamente abandonados, nas filas do abandono, privados de uma vida normal.  

                                      Enfim, nesta sociedade de tantos abandonos, os gordos são apenas mais uns de que a sociedade esqueceu. Inventaram até a aversão a gordo: gordofobia. Deve ter pobrefobia, petrofobia e gayfobia e, por ai, vão as sandices para afastar as pessoas que são diferentes.

                                      A sociedade é múltipla e composta de tudo e de todos. Todos são serem humanos que merecem viver dignamente e ter acesso aos direitos e aos bens que o Criador pôs à disposição. Quaisquer restrições são abismos perversos, que se abrem em detrimento, normalmente, das minorias, numa sociedade acometida por uma doença grave conhecida pelo nome de indiferença.              

                             E estas pessoas discriminadas, como a maioria dos brasileiros, apenas esperam que um dia a sorte mude para terem uma vida normal, mas este é um sonho adiado todo santo dia. No Brasil, foi institucionalizado a profissão: esperar. Somos os campeões da espera. Esperamos tantas coisas que não vale a pena sequer enumerar. Chico Buarque, nos dá a noção desta angústia, na canção Pedro Pedreiro:

– Esperando, esperando, esperando
Esperando o Sol, esperando o trem
Esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho pra esperar também

Esperando a festa, esperando a sorte
Esperando a morte, esperando o Norte
Esperando o dia de esperar ninguém
Esperando enfim, nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem –

                   Renato Gomes Nery – E-mail – rgnery@terra.com.br Site – www.renatogomesnery.com.br

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