SONHOS E AMBIÇÃO

Somos a dimensão dos nossos sonhos e da nossa ambição. Podemos até não os alcançar, mas devemos tê-los como parâmetro para chegar aonde ambicionamos. Se não os tivermos, a nossa batalha estará pedida por antecedência.

Esta é uma regra de ouro da vida. Não se alcança o que não aspira! Portanto, tem-se que tomar cuidado com a dimensão do que se deseja. Não se pode ser modesto nessa empreitada. Só se chega aonde se ambiciona chegar! Se o objetivo for chegar a um determinado patamar, o limite é lá. Não se pode chegar ao cosmos se lá não faz parte dos objetivos.

O foco era se ter um emprego modesto ou não, pois ele daria a sensação de estabilidade e segurança. Entretanto, salário nenhum resiste aos desacertos da economia brasileira, que sempre viveu aos solavancos, sendo madrasta com os pobres, e mãe caridosa e cuidadosa com os ricos. Portanto, meu caro leitor, a sua má sorte é ter nascido aqui. Esta condição é narrada pelo samba Partido Alto de Chico Buarque, que reclama com Deus:

“Deus é um cara gozador, adora brincadeira Pois pra me jogar no mundo, tinha o mundo inteiro Mas achou muito engraçado me botar cabreiro Na barriga da miséria nasci batuqueiro (brasileiro)* Eu sou do Rio de Janeiro”.

Sentindo-se um privilegiado, pois tinha um emprego, onde muitos chafurdam na pobreza e na miséria, encaminhava-se a passos largos para uma merecida aposentadoria. Estava lá vivendo em braços esplendidos do ócio e o salário sendo corroído pela inflação que eleva impunemente os preços

da carne, do arroz do feijão, do leite e outras despesas necessárias. Um belo dia desperta-se do sonho dourado com as faturas da água, da energia, do plano de saúde etc. que não dá mais conta de pagar.

Está-se fora do mercado de trabalho há muito tempo, com a saúde precária e com os remédios pela hora da morte. O que fazer? Arrumar um novo emprego, mas qual? As costas doem, a visão já não ajuda, a casa, as vezes, cheia de filhos e de netos que ainda pegam uma rabeira no salário. Que sina! O sonho dourado virou pó! E agora, meu caro!

Não se muda o passado, mas se ele pudesse ser mudado, ter-se-ia arrumado uma outra ocupação logo depois da aposentadoria para não está passando por esses perrengues, no fim da vida. E agora tem que pagar este salgado pato que ficou indigesto.

Conselho se fosse bom, seria vendido. Para quem está na situação aqui narrada, eu não saberia lhe prescrever um, entretanto, meu caro leitor, que ainda está iniciando a vida e não foi alertado, eu diria: tome tento, prepare-se para a velhice, a fim de que o seu sonho dourado de uma aposentadoria não vire um cruel pesadelo. Afinal, você nasceu no Brasil e aqui o buraco é mais embaixo.

Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br

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