Sempre tive dificuldades com as ciências exatas e, notadamente, com a matemática. Isso não me impediu de começar e terminar com um certo destaque o Curso de Estradas, na Escola Técnica Federal do Estado de Mato Grosso (EFMT). O curso era tão bom que eu e todos os meus colegas passamos no vestibular sem cursinhos. Ressalte-se que os tais cursinhos somente existem porque o ensino de segundo grau é precário e deficiente, como de resto toda a educação no Brasil.
No primeiro dia de aula, do referido curso, aparece a Professora Nilda Bezerra e nos apresenta um volumoso compêndio completo de 2º Grau do livro de Matemática de Dalton Gonçalves. E afirma: Iremos começar e terminar este livro até o final do terceiro ano do Curso de Estradas. Faltando duas aulas para encerrarem as aulas do curso, ela afirmou: terminamos hoje o Dalton Gonçalves.
Já tive oportunidade de pessoalmente lembrar-lhe o acima relatado, na intenção de reconhecer o valor das pessoas que conversam de menos e cumprem o seu dever. Ela era um pé de boi que trabalhou com afinco anos a fio e, ora desfruta de uma merecida aposentadoria. Não me lembro que, no transcurso de 03 anos de duração do curso referido, ela tenha faltado uma única aula.
Foi por causa de denodo como o dela que, todos nós, os seus alunos do Curso de Estradas/1973 e, também, de Eletrotécnica, ingressamos, como já frisei, na UFMT, sem passar por cursinhos. O Brasil, seria melhor e mais próspero se todos cumprissem com os seus deveres, apesar de todas as cruéis deficiências, e a educação ser uma chaga aberta à espera de prioridade.
Aos homens é preferível o caráter às ideologias, como afirma, com propriedade Aécio Pamponet. Hoje, quando se discute o ensinamento de doutrinas políticas nas escolas, não se pode perder de vista que a vida escolar e a formação do caráter dos alunos se pautam pelo exemplo do dever cumprido, disciplina, metas, horários e do respeito mútuo.
Fui informado que, há algumas semanas, a Professora Nilda tinha sido internada em um hospital na UTI. Acompanhei o seu infortúnio de perto e felizmente ela já se recuperou e encontra-se em casa.
Desejo que ela tenha vida longa e que o seu exemplo sirva de bússola para todos aqueles, que na sua lide diária, têm a missão de ensinar. E que outras homenagens lhe sejam prestadas em vida, pois as homenagens póstumas de nada servem para quem deu a vida em prol de uma causa. E não existe uma causa mais nobre do que a de formar e educar.
Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br