– Não sei, não sabe ninguém/Por que canto o fado/Neste tom magoado/De dor e de pranto/E neste tormento/Todo o sofrimento/Eu sinto que a alma/Cá dentro se acalma/Nos versos que canto/Foi Deus/Que deu luz aos olhos/Perfumou as rosas/Deu oiro ao Sol/E prata ao luar/Foi Deus/Que me pôs no peito/Um rosário de penas/Que vou desfiando/E choro a cantar/E pôs as estrelas no céu/E fez o espaço sem fim/Deu o luto as andorinhas/Ai, e deu-me esta voz a mim –
A canção – Foi Deus – imortalizada na voz de Amália Rodrigues, é única. Ela é a comprovação da evidência de uma das maiores manifestações poéticas e musicais do mundo: O Fado.
O que é o fado: o que tem que ser (um destino selado), a saudade, a sorte, a partida, a melancolia, a perda, a ausência, o sofrimento, a resignação. É uma manifestação do amor, das emoções e da vida. Não é à toa que a palavra fado significa destino e surgiu, como o tango, em ambientes transgressores frequentados por gente à margem da sociedade tradicional. Esta deve ser uma das razões por que ambos são densos, profundos e nostálgicos. Em suma, o fado, como se afirma por lá é: um xale, uma guitarra portuguesa, uma voz e um imenso sentimento.
Este gênero musical é a maior manifestação da alma portuguesa. Se a alma cantasse poder-se-ia dizer que ele é cantado por e com ela! Em Portugal, notadamente, em Lisboa, existem inúmeras casas tradicionais, onde se pode ouvir esta música tradicional portuguesa tocada e cantada por exímios músicos e cantores/cantoras portugueses.
Aqui, neste imenso Portugal, ainda persiste a nostalgia de voltar às origens. Portanto, se for à “terrinha”, não deixe de ir a uma, mas a várias casas de fado, para ouvir a lenda, transformada em um patrimônio cultural da humanidade, apreciando um rico bacalhau, um delicioso vinho regional e um pastel de Belém, ouvindo fados, muitos fados: Ai, Mouraria, Lado a Lado, Perseguição, Só Nós Dois, Tudo Isto é Fado, Coimbra, Olhos Castanhos, entre tantos outros. Bem como, um dos mais conhecidos, no Brasil: Nem as Paredes Confesso:
Não queiras gostar de mim
Sem que eu te peça
Nem me dês nada que ao fim
Eu não mereça…
De quem eu gosto
Nem as paredes confesso
E nem aposto que não gosto de ninguém
Podes rogar, podes jurar, podes sorrir também
De quem eu gosto nem as paredes confesso….
Renato Gomes Nery. E-mail – regnery@terra.com.br