O BODE EXPIATÓRIO

 O Plano Cohen foi uma das maiores falsificações da história brasileira, cuja autoria foi atribuída aos comunistas. Consistia num plano político, imposto pelos militares do entorno do Governo de Getúlio Vargas para pretensamente derrubar o seu governo – por meio de greves, de incêndio de prédios públicos, de manifestações populares e assassinato de figuras políticas –  para depois implantar uma ditadura comunista no Brasil, nos moldes soviéticos. Criou-se artificialmente, com a divulgação do aludido plano, um clima de medo e insegurança, onde se rotulou de comunistas todos que se opunha ao Governo, possibilitando a Getúlio decretar o estado de guerra e, em seguida, a temível Estado Novo de triste memória

–    o Plano Cohen teve papel decisivo em fenômenos que se estendem até a atualidade, como a institucionalização do anticomunismo como parte central da identidade dos militares brasileiros e a sedimentação, nos quadros militares, da ideia de que uma ditadura temporária pode servir como instrumento de progresso. Por analogia, a conspiração em torno do Plano Cohen foi equiparada a eventos como a campanha de atemorização deflagrada às vésperas do Golpe de 1964 econtinua a ser mencionada em análises sobre a política brasileira contemporânea – (Wikipédia – Verbete Plano Cohen – Internet).

Pode-se não ter qualquer simpatia para com os comunistas, mas é preciso lhes fazer justiça. Eles foram e continuam sendo vítimas do referido infame e maquiavélico plano, cujos reflexos lhes causam incômodos e transtornos até hoje.  Os adeptos do retorno do verde oliva desconhecem ou omitem propositalmente este torpe episódio. Enfim, os comunistas continuam sendo o “bode expiatório” do País. Tudo de mal que acontece é carimbado como comunista. O Chefe de Governo/Estado no Brasil – de origem militar – prometeu varrer do Brasil os comunistas. E outros ainda os veem, em qualquer fogo fátuo e, ora, encontram no empacado Foro de São Paulo uma velada ameaça dos vermelhos. Enfim, o estigma permanece!

Na semana passada, um neófito deputado que tomou posse na Assembleia Legislativa-MT, foi taxativo: os comunistas comem criancinhas! No passado, esta distorção foi usada, no interior do Estado, numa eleição para Governador, onde se afirmava se tal candidato fosse eleito, os perversos comunistas estacionados na divisa com a Bolívia iriam invadir o Estado.

Somos vítimas e prisioneiros de um lastimável mal entendido. O cruel maniqueísmo entre o reino da luz (o bem) e das sombras (o mal). Deste nós contra eles que não produziu e nem produzirá nada de útil e mergulhou o País num mar de fanatismos, mágoas e ressentimentos.

Aos que estão no Poder é preciso que mostrem a que vieram, pois dirigir o país não é encontrar culpados e nem cultivar fantasmas. O Brasil imiscuiu-se numa crise sem precedentes, agravada, todos os dias, pela induzida descrença na ciência e pela má gestão, aumentando a falsa crença de que este não é um País sério.  Viramos os leprosos do mundo!

Os tidos como comunistas que estiveram no poder por mais de 12 anos – apesar de todos os conhecidos desacertos –  nenhuma criancinha foi comida. A imprensa – outra culpada pela incúria do Governo – pode aumentar, mas não é culpada pelos desvarios e mal feitos de ninguém! Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br

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