SEM PALAVRAS

Na altura da vida, poucas coisas ainda me inquietam ou surpreendem. Chequei, entretanto, à conclusão que vida é uma consumada surpresa. E vive nos enredando e nos aprisionando num teorema indecifrável. Enfim, vivemos à socapa de acontecimentos que podem nos pregar peças na próxima esquina.

            Ontem na entrada do prédio do meu apartamento, alguém me abordou pelo nome. Eu me virei vi um rapaz moço numa cadeira de rodas que amistoso me dirigiu a palavra.  A princípio não reconheci, mas, em seguida, quando ele começou a falar eu me lembrei dele. De um rapaz alegre e cordial de pouco mais de 20 anos que fazia manutenção lá no meu   escritório. Levei um susto quando ele disse que tinha caído de um andaime que o deixou naquele estado. Ainda brinquei com a morena bonita que estava no comando da cadeira de rodas. Eu lhe disse com uma morena destas cuidando de mim eu trocava de lugar com ele. Ela me deu um sorriso largo e triste que me deixou ainda mais constrangido. Brincadeira tem hora!

            E o constrangimento aumentou quando lhe perguntei sobre o seu estado de saúde e ele me respondeu, todo esperançoso, que tinha fé em Deus que Ele iria retirá-lo daquela cadeira. Formou-se um nó na minha garganta e eu me despedi e afastei para não demonstrar que estava visivelmente comovido por ver aquele moço prisioneiro de uma cadeira de rodas de onde não poderia mais sair.

        Por que esta dor doeu tão forte como expressa a canção popular! As situações insolúveis sempre me deixam arrasado. Lembro da minha mãe quando foi acometida de câncer e eu não aceitava que não tivesse solução. E não tinha! Entretanto, como advogado eu fui treinado a achar um alento ou uma solução para todos aqueles que me procuravam.  No entanto, não me conformava que me deparava com uma situação insolúvel.

            Que frustração saber que sou impotente mediante tantas coisas que soçobram na minha frente neste País tão ingrato, tão desigual e tão injusto! Quisera ter os pendores de Cristo que disse a Lázaro: Levanta e anda! E que apenas dissesse para aquele jovem tão amável e tão simpático: levanta daí e vá viver a vida que você merece. Vá namorar… Vá fazer amor… Vá se divertir…Vá trabalhar, constituir família, ter filhos…Vá ser feliz!

        Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br

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