VIOLETA

                                

                            Outro dia, não me lembro onde, eu li que um tema medíocre pode virar uma obra prima nas mãos de um bom escritor e que um tema excelente pode se transformar em um texto medíocre, nas mãos de um escritor menor. Em língua espanhola, eu conheço 03 excepcionais escritores que ainda estão vivos: Leonardo Padurra (cubano), Isabel Allende (Chilena) e Vargas Llosa (peruano) que acaba de entrar para Academia Francesa de Letras. Ressalte-se, também, o excepcional escritor mexicano Carlos Fuentes, falecido recentemente, autor da monumental obra Espelho Enterrado que explica em detalhes a colonização espanhola e seus reflexos, no Novo Mundo.

                            Acabei de ler, há poucas semanas, o excelente livro de Leonardo Padurra – Poeira ao Vento (Ed. Boi Tempo) que retrata o sufocante cotidiano da Ilha. Isabel Allende sempre me surpreende. Já li praticamente toda a sua obra publicada, em língua português, no Brasil. A mais famosa delas sobre os regimes de força na América Latina e que virou filme: A Casa dos Espíritos.

                            Ela volta novamente ao tema, no livro que acabo de ler, Violeta – 4ª. Ed. Bertand Brasil – 2022. Ele é oportuno quando existem rumores de retorno das ditaduras, em diversos países da América Latina, permeado pela descrição precisa das pessoas e dos dramas humanos para quem a natureza humana não tem segredos. Bem como, a precária condição feminina, a sistemática perseguição e liquidação de populações indígenas, e as  incursões sobre duas pandemias.

                   É oportuno a leitura do livro por que as décadas de 60/70/80 do século passado, foram convulsionadas por ditaduras sangrentas em toda a América, urdidas e financiadas pelos EUA, com receio de que regime comunista cubano se espalhasse pelo continente.

                            “Tal como ocorreu em nosso e em outros países, milhares de pessoas foram raptadas e desapareceram, ou então foram torturadas, e os corpos nunca foram encontrados. Agora sabemos, Camilo, da infame Operação Condor, criada nos Estados Unidos para restabelecer ditaduras de direita em nosso continente e coordenar as estratégias mais cruéis para acabar com os dissidentes” (pag. 236/237).

                                   Ressalte-se que as novas gerações não conhecem o que é ditadura e se enveredam por temas inquietantes como o lema: ‘intervenção militar’ e inviabilização da ordem constituída, sem saber das atrocidades que ocorreram, naquele período, que terminaram por mergulhar os países em crises políticas e econômicas sem precedentes.

                            Votando ao início, a sua autora é uma exímia escritora que descreve com maestria a vida e o cotidiano com todas as suas nuances. Um grande tema nas mãos exímia de uma escritora singular.  Um livro espetacular. Vale pena ser lido. Fica aqui a recomendação.

                            Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br

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