ASSOMBRAÇÕES

O Juca nasceu e sempre viveu na Guia, distrito de Cuiabá. Muito dado, ele sempre cultivou e tem muitos amigos na região. Um dia, ele foi visitar um querido amigo, com quem, queria tirar um dedo de proza e relembrar de episódios antigos que viveram juntos. O seu amigo morava depois do cemitério, na direção de Acorizal. Chegando lá, a boa proza estendeu-se ao início da noite. E aí o Juca apavorou-se, pois na volta tinha que passar em frente ao cemitério que todo mundo dizia que era mal-assombrado. E agora, como passar sozinho em frente ao cemitério, para retornar para sua casa! Pensa, pensa e nada lhe ocorre! De repente, vê passando uma pessoa que vai se dirigindo para a Guia e o Juca resolve pegar uma carona com o transeunte e assim o fez. E ele bom de papo “garra” numa conversa amistosa com a pessoa. Chegando em frente do cemitério ele pergunta: você sabia que este cemitério é mal-assombrado! E tem como resposta, o seguinte: QUANDO EU ERA VIVO, EU TAMBÉM OUVIA DIZER ISTO!

Quantas boas estórias, com essa, ouvia-se antigamente. Tinha gente especializada nessa tarefa: contar causos de assombrações. Os meninos (a) com imaginação fértil, adoravam as estórias de almas do outro mundo, nos mais diversos matizes. Não se concebia a infância sem o encanto dos meninos (a) imaginativos (a) com tudo que era oculto num mundo desconhecido. Hoje, os meninos (a), não acreditam mais nos famosos: bois-tatás, lobisomens, sacys e nos homens que voltavam para assombrar os vivos. Certamente que o mundo ficou menor e com menos encanto, especialmente para as crianças que sequer acreditam em Papai Noel.

Depois da luz elétrica, as assombrações que saíam das sombras noturnas nos abandonaram e nos fizeram escravos da luz, onde normalmente se enxerga tudo, mas pouco se vê, pois são tantas coisas que não se fixa em nenhuma delas. Bem como, instaurou-se definitivamente a escravidão dos televisores, das telas de computadores e, sobretudo, dos celulares que aproximaram o mundo, mas nos distanciou do convívio e de uma boa proza. A mulheres então encontraram um brinquedo predileto. E vivem alheias ao mundo ligadas, à tela de celulares que faz a alegria do universo feminino.

Sequestraram os sonhos, os receios e o soberbo e salutar medo de coisas inverossímeis. Acabou-se a magia, o sonho e o encantamento. A realidade é nua e crua, mostrada com requintes de detalhes para que se tenha medo de sair de casa e de ir-se à escola ou de se apreciar uma linda lua cheia. Os donos das cidades são quadrilhas armadas que as têm como um feudo dividido a ferro e fogo, onde se paga pedágio para se viver.

Enfim, meu caro leitor, não me agrada fazer esta constatação, mas o mundo, com certeza, era melhor quando assombrado por inofensivas almas do outro mundo!

Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br

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