VENDENDO RUA

                                               O Bairro do Porto é a porta de entrada da Capital para quem vem a Cuiabá de avião. É um dos mais tradicionais de Cuiabá e tem sido vítima do Poder Público ao longo do tempo. Quando agravou os problemas da Prefeitura com os camelôs, esta resolveu o problema, levando-os para a região numa das melhores áreas verde da cidade e lá implantando um dos monumentos à arquitetura nacional: O Camelódromo. Pretensamente se resolveu o problema dos camelôs e privou a cidade de uma das mais primorosas áreas verdes. Vivíamos na época no Bairro Dom Aquino e ajuizamos uma ação popular contra a Prefeitura. Ganhamos a liminar que foi cassada pelo TJMT. Em seguida,  outro administrador construiu lá  um abrigo para idosos. Sem conseguir sensibilizar ninguém e sem apoio – a não ser de Des. Selma Lombardi que votou pela manutenção de liminar – o processo foi arquivado.

                                               Na semana passada, foi noticiada  pela imprensa a venda de Rua TufiK Affi, no Bairro do Porto, pela Prefeitura de Cuiabá para um grupo privado que certamente  ampliará seus domínios, numa local onde as atividades desse grupo não deveriam ser permitidas. Tudo isto foi feito legalmente com o aval da Câmara Municipal de Cuiabá. Ela é conhecida como rua do “Cotovelo” e serve de alternativa para quem trafega entre Várzea Grande e Cuiabá pela Ponte Júlio Muller ( Ponte Velha) e pretende retornar à Av. XV de novembro. Com esta venda o acesso à Várzea Grande será dificultado, pois a única alternativa vai ser pela Av. Prainha e a entrada da cidade sofrerá mais um revés e o Bairro do Porto será mais uma vez desfigurado.  É lamentável que este fato foi levado a cabo na administração de um excelente professor de história que conhece profundamente a nossa cidade, os nossos costumes e nossas tradições.

                                               Não percebemos reações ao fato, a não ser de alguns órgãos de imprensa e alguns solitários comentadores das notícias. O MP promete providências. Onde anda o CREA/MT que não temos conhecimento de manifestação sobre a ação da  administração pública no comando da cidade? Onde anda a cuiabania que assiste impassível a desfiguração da cidade? Perdemos o poder de indignação? Quando isto acontece não morremos, simplesmente  estamos mortos.

                                               Os administradores públicos tem que cuidar da cidade e das pessoas que nela vive. E não será vendendo ruas, desfigurando bairros e dificultando o trânsito que iremos ter uma cidade mais humana, mais acolhedora, mais habitável e, sobretudo mais bonita. Que Deus nos proteja contra o Poder Público e que o MP tenha êxito nas medidas que eventualmente vier tomar.

                                               Renato Gomes Nery – é advogado em Cuiabá.

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