APOLOGIA DA MISÉRIA

                              

                                      A marca do cristianismo no Brasil é a cruz de Cristo chamada de Cruzeiro. Ela foi erguida como testemunho da fé, em Porto Seguro/BA, onde aportou os primeiros portugueses no Brasil. A cruz é o símbolo e a testemunha da criação de grande parte das cidades deste imenso Brasil. A reverência ao Cruzeiro é muito grande no Nordeste e os nordestinos que vieram para Mato Grosso, na primeira metade do século passado, fincaram, nas cidades em que fundaram, o Cruzeiro como símbolo da fé cristã. Uma das manifestações desta crença era visita-lo com frequência e nele acender velas para reiterar a fé, fazer promessas e pedidos. E a fé era tanta que quando faltava a chuva as mulheres e crianças com as latas de água na cabeça iam lavar o Cruzeiro com a crença de que com este ato o Criador faria a precipitação de chuvas.

                                        É certo que a crença de que lavando o Cruzeiro pode parecer tola, mas é uma crença. E são as crenças que mantém a chama da esperança. Precisamos acreditar até, por vias transversas, que a vida e o mundo vão melhorar. É preciso viver pendurado na esperança! E é ela a força motriz que leva o mundo para frente. Portanto, é preciso ter esperança, sempre!

                                        Eu sou aquariano e navego entre os extremos sempre, mas apesar das recaídas não deixo que o pessimismo tome assento. Afasto-o sempre, pois este mundo não dá saltos e ele progride lenta e gradualmente, sem os arroubos dos imediatistas que viram fanáticos e acreditam em fogo fátuo.  E que do nada – como se a vida não fosse uma causa e efeito –  surgirá um ungido para nos tirar do limbo. É essa crença que tem nos levado sistematicamente ao fundo do poço. É melhor acreditar em Deus que é Santo velho!

                                        A par da fé e da esperança, se faz neste País a apologia da miséria. Temos orgulho de nossos heróis surgidos  das favelas em condições lastimáveis. Quanto mais sofrido o herói mais o veneramos. E aí se incluem a maioria dos jogadores de futebol e boa parte dos campeões olímpicos, como se a miséria fosse credencial para sucesso. Em vez de acreditar na educação e na formação do nosso povo, acreditamos no heroísmo levado ao extremo, como se para se estabelecer na vida e ter sucesso tivesse que se ter um passaporte para sair das piores condições de vida que este País outorga a seus filhos.

                                        Acreditamos num sindicalista falastrão e lhe demos a primeira magistratura do País, por duas vezes. Demos este mesmo cargo para uma mulher que não completa uma frase, sem atropelar a língua, a lógica e o bom senso.  E para completar a nossa veneração pela ignorância, demos o mesmo cargo a um capitão que a única coisa que produziu na vida foram bravatas. É por estas e outras que nos encontramos na beira do abismo de um País que quando anda é para trás.

                                        Enfim, é preciso lavar e lavar com alvejante todos os cruzeiros deste País para que o Criador nos dê juízo e mude a forma de ser, de pensar e de viver para que passemos a acreditar que somente a formação e a educação podem nos retirar do obscurantismo, do limbo e pode nos catapultar para o paraíso. Oxalá, oh Pai!… abra as portas…. mostre a luz!

                              Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br

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