A VEZ DAS MULHERES…?

                                            

                            A dominação seja do que for, deixa marcas que são incorporadas pelos dominados. Elas se evidenciam quando os dominados incorporam formas de agir, de pensar e de se portar do dominador. A escravidão deixou marcas indeléveis na sociedade brasileira. Por exemplo, parte dos escravos que não podiam se ver livre da escravidão queriam ser brancos para ter as mesmas regalias e privilégios destes, pela impossibilidade de se verem livres da dominação. E esta questão pode ser verificada na tentativa de esbranquiçamento da sociedade. Quem não quer ser branco, pois é por aí o caminho de se livrar do verdugo e de todas as suas manobras e crueldades.  

                            Exemplo claro desta situação está retratada no novela Sinhá Moça, onde um feitor preto fala para um escravo que preto não tem juízo. Uma outra situação foi quando eu ouvi de uma mãe dizer para os seus filhos: não vai casar com preto para criar urubu. Estes são reflexos da perversa escravidão.  Não esqueçam que o Brasil – campeão do tráfego negreiro – foi o último País do Continente a aboli-la de direito, cujos reflexos e sequelas permeiam a nossa sociedade, desde sempre.        

                                    A novela Pantanal retrata o dilema de uma mulher em quem o marido colocou cangalhas e a tem como uma bruaca do seu intocável patrimônio. As mortes diárias de mulheres vítimas do ego masculino, bem como os padrões salarias e outras tantas discriminações, são dilemas da dominação masculina, enfrentados diariamente, comprovando a hegemonia masculina desde sempre.

                            Segundo o IBGE, 54% de população brasileira é de negros. E 52,2 % é composta de mulheres. Se quisessem eles poderiam mandar no País, mas creio que são vítimas da perversidade da ideologia do dominador que foi incorporada e dá sinais da sua exaustão, mas que é insuficiente para enfrentar o perverso “establishment”.

                            Numa dessas eleições presidenciais, eu descia o elevador do prédio onde moro, num final de tarde, com algumas empregadas domésticas que tomavam partido de alguns candidatos das eleições presidenciais de então, sem mencionar o nome de uma candidata ao pleito. E eu lhes disse que concorria no pleito uma ex-empregada doméstica como elas. Formou-se um silêncio sem respostas.

                   E nas eleições de outubro concorre solitariamente uma competente mulher, com pequena pontuação nas pesquisas. Ah, se as mulheres quisessem…! Poderiam abrir um espaço de renovação e elegê-la Presidente do País, mesmo por que as outras candidaturas, com os de sempre, não deveriam empolgar ninguém.

                            Renato Gomes Nery. E-mail – rgenery@terra.com.br                                 

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