O CRIME DO PADRE AMARO

Discute-se atualmente, como sempre, de forma apaixonada, o aborto, responsável por incontáveis vítimas de meninas-moças mal informadas, imaturas, inseguras, barradas pela legislação e/ou sem condições de arcar com os custos de um intervenção médico/profissional o que as levam cair em mãos amadoras e inescrupulosas, vindo a perecer. Um tema polêmico, à mercê de uma legislação claudicante, sem consenso, em vários países. Uns países avançaram na liberação do aborto e outros, como o caso dos EUA, retrocedem, após muitos lustros onde ele era permitido.

Entra em discussão, nesta seara, o direito à vida, a intransigência, a hipocrisia, a ignorância, o corpo das mulheres; bem nebulosas contendas religiosas, ideológicas e de oportunismos de ocasião. E por aí segue uma discussão interminável, cujo consenso, se é que existiria, está muito distante. Um drama humano que precisa de mais compreensão e de menos radicalismo. 

Algumas pessoas me pediram para eu escrever um artigo sobre este tema espinhoso. Após refletir, me lembrei da obra prima do escritor português Eça de Queiroz, o Crime do Padre Amaro que li, há muito tempo, que se imiscui pela corrupção do clero e a hipocrisia da média burguesia portuguesa da segunda metade do século XIX. Para quem não se dispõe a lê-lo, eu aconselho o filme que é uma produção – méxico-hispano-franco-argentino de 2002 dirigido por Carlos Carrera, adaptada, tendo como pano de fundo o México, abordando o aborto e, também, questões campesinas, guerrilheiros, traficantes, sem terras e teoria da libertação – com um elenco primoroso e uma versão que faz justiça ao autor do livro.

                                     O filme adaptado, é basicamente a história de um padre que, após ordenado, vai servir numa pequena cidade no interior do México, onde após inseguranças e muitas dúvidas, se envolve com uma linda muchacha. E ela vem a engravidar, começando aí, um drama de enormes proporções, com um desfecho trágico/dramático e uma muda indiferença.  

O filme está disponível na Amazon Prime, adorocinema.com e em outros sites. Vale a pena vê-lo, pois o aborto é uma questão universal e tão antiga quanto o homem. Espero com isto, ter contribuído com alguns leitores que me cobraram um texto sobre o assunto. Como sou apenas um aprendiz de feiticeiro, sem maiores conhecimentos de um tema tão complexo, indico o livro e o filme, tendo como autor um escritor universal que, apesar de profundo, deixa-o em aberto para que as pessoas possam refletir, pois assuntos controversos são de difícil consenso. 

Renato Gomes Nery. E-mail – rgnery@terra.com.br

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